segunda-feira, 30 de abril de 2012

Taleigo alentejano (azul & vermelho)


Aos sacos de pano só ouvi chamar-lhes "taleigos" ou talêgos depois de ter vindo para o Alentejo. No Oeste e na zona de Lisboa nunca ouvi o termo; eram simplesmente os "sacos do pão, da farinha, do feijão ou do grão".
Entretanto chegaram os tempos modernos e substituíram-nos pelos sacos de plástico ou papel, que se comparados com os tradicionais taleigos feitos com retalhos diversos, ficam em tudo a dever à graça.

Há décadas era o que se usava para levar a merenda para o campo ou para guardar em casa alimentos secos e pequenos objectos. A meu ver, faz todo o sentido manter essa sua função utilitária; é que servem para pôr quase tudo, em especial aquilo que tem tendência para andar espalhado por aqui e por ali...


De hoje e até 5ª-feira, passo a mostrar-vos os quatro taleigos que fiz, destinados a uma loja em Mora, que vende pão alentejano, azête, bolêmas, quêjos e demais alentejanices. 
Tenho a certeza que por lá, também os talêgos se  hão-de sentir em casa!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O dia das cortinas



Já lá vai algum tempo que me encomendaram umas cortinas para um monte alentejano. Confiaram no meu gosto, não me deram prazo, nem pressa, apenas os tons -azuis- e as medidas do vão da janela.
O primeiro par foi feito e entregue pouco depois, mas as semanas iam desfilando e os tecidos escolhidos para o segundo permaneciam dobrados e arrumados no seu canto, mas não esquecidos...
... até que chegou o seu dia! Reservei o feriado, a meio da semana, para voltar a pegar nas cortinas e pelo fim do dia a empreitada estava terminada.
Balsâmica, esta sensação de compromisso cumprido!




quarta-feira, 25 de abril de 2012

O leilão


Todos os anos, no dia 24 de Abril, a Coudelaria de Alter do Chão leva a cabo o tradicional leilão equestre aberto ao público e onde, mediante inscrição prévia, se pode apreciar e licitar os exemplares à venda. Este ano eram 25 os cavalos puro sangue que desfilaram no picadeiro, 14 fêmeas e 11 machos. Nunca tinha presenciado um leilão desta natureza, mas este ano decidi ir. Não por causa dos cavalos, nem por ser um acontecimento social único que atrai centenas de visitantes a Alter do Chão, antes pela novidade deste ano  no leilão: iria à praça um dos burros nascidos e criados na Coudelaria.


Inscrevo-me como licitadora no secretariado e entregam-me a raquete nº 28. Informam-me que cada vez que a levante, estarei a fazer uma oferta de mais 100€.
Primeiro desfilam todas as fêmeas; o burro há-de vir no intervalo. Estou com pressa e a primeira parte parece demorar eternidades... até que por fim chega o ponto alto!
Já o tinha ido ver ao estábulo e mesmo ao longe reconheço aquelas orelhas peludas e espetadas. Vem a passo, à guia, trazido por três jovens. Na primeira volta que dá ao recinto decide travar em frente da bancada do público e começar a zurrar. Ondas de riso!

É anunciado o seu preço base de licitação, 400€. Estou decidida a oferecer 500€ na esperança de que mais ninguém esteja interessado. Passa um minuto ou dois, mas há quem levante a raquete para os 600€... 700€... e acaba arrematado por 800€.
Levanto-me e vou até ao secretariado. Venho entregar a raquete, o animal que pretendia já foi vendido, obrigada! 
Fiz bem... dar mais de 500€ por um burro, mesmo de linhagem, não seria um bom negócio.

Ainda não foi desta vez que concretizei um sonho. Será doutra.
Por enquanto, fico apenas com o burro Platero, um dos protagonista das curtas e rendilhadas histórias de Juan Ramón Jimênez, passadas numa aldeia andalusa, onde a vida corre tão simples quanto o pode ser.
É o que ando a ler aos serões.





domingo, 22 de abril de 2012

Canja de lentilhas


Extremamente ricas em fibras e em ferro, auxiliadoras das funções digestivas e cardiovasculares, as lentilhas são leguminosas baratas, bastante versáteis, fáceis de cozinhar, porém pouco conhecidas pelas gerações actuais e ainda menos consumidas no nosso país. Confesso que nunca mas apresentaram sob que preparação fosse em nenhum restaurante ou em jantares em casa de amigos ou familiares.
Na dispensa tenho quase sempre um pacote delas em uso. Conheço as verdes (maiorzinhas), e outras castanhas ou laranja, mais pequeninas e ainda mais rápidas de cozer.

Para esta canja de lentilhas utilizei as verdes, que beneficiam se forem postas de molho uma meia hora antes de serem cozinhadas.


Interessada em experimentar uma sopa nova?
Siga então, esta receita simples.

Depois de lavar e demolhar as lentilhas, coloque-as num tacho com água, metade de um alho francês, metade de uma cebola,outra metade de cenoura, uma folha de louro e coza durante 30 min. Vá olhando para não cozer demais e as lentilhas não se desfazerem.

Depois de todos os ingredientes estarem cozidos, retire brevemente do lume e tempere com azeite, sal e pimenta.

Leve de novo ao lume, acrescentando umas colheradas de massinha pevide até esta cozer.

Imediatamente antes de servir aromatize a canja com uma colher de sopa de vinagre de sidra e um raminho de hortelã, se for a seu gosto.

(...Eu bem disse que hoje alimentava o blog!...)

sábado, 21 de abril de 2012

Em falta...


...pois estou!
Há quase uma semana que não alimento o blog, não vejo o e-mail, não leio outros blogs, nem abro a minha página do FB !
A semana  que passou foi esgotante; muito por culpa de lãs e tecidos, das agulhas de coser e tricotar, mas principalmente pela minha incapacidade de, em nesgas de tempo, resistir a experimentar novas ideias, mesmo quando tenho compromissos com prazos a cumprir...

Tomorrow I'll feed the blog properly. Tomorrow, I promise.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Retalhos & Poesia


Há algumas semanas encomendei à Versacraft, alguns carimbos para tecidos, entre os quais um alfabeto completo. No passado fim de semana arranjei tempo para experimentar as letras-carimbo e tive uma ideia, que me pareceu ...mesmo boa!
Para não fugir à tradição alentejana, a ideia consistia em fazer taleigos em retalhos e aplicar-lhes uns dizeres típicos dos compadres. Escolhi uma quadra humorada do cancioneiro alentejano e, letra a letra, lá fui carimbando.


Sem dúvida que o poema nos faz sorrir e aqui está o resultado final...



Gostam?
Eu nem por isso...Não será uma união feliz, esta dos retalhos e das letras...São miudezas demais à mistura que causam alguma contradição estética...

Bem, mas não pensem que o taleigo vai ficar escondido na gaveta...Já está pendurado na cozinha e lá estão guardadas as ervas que vou colhendo e secando para fazer os meus chás...




Afinal, este mundo é para todos, para os mais e para os menos bonitos!

sábado, 14 de abril de 2012

Alerta, está!



Normalmente, de manhã quando lhe abríamos a porta, grasnava de feliz e vinha logo cá para fora fazer o aquecimento matinal, leia-se dar umas corridinhas a bater as asas. De resto, passava o dia a debicar ervas, a fazer a ronda às imediações e a dar sinal se detectava algo menos normal. Agora, não. Deixa-se ficar na maior parte do tempo dentro do galinheiro, poucas vezes vem à rua, e quem o quer ver é à porta da sua suite...É que já há algumas semanas está lá dentro, muito sossegada e zelosa do seu ninho, a sua companheira pata gansa, a chocar nada mais, nada menos que onze ovos! Não sei quem lhe disse o que se está a passar, mas ele está bem consciente da importância da ocasião e como tal acha por bem não baixar a guarda!


Esperemos mais uns dias para ver o que daqui sai!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Souvenirs de Penha Garcia


Ainda a propósito da passagem por Penha Garcia, hoje quero destacar as três lembranças que de lá trouxe.

Na manhã de Sábado Aleluia havia feira na terra. Lá descobri à venda esta variedade de feijão. Trata-se de feijão bago-de-arroz, substancialmente mais pequeno e redondinho. Dispensa ser demolhado e coze muito mais depressa do que os feijões normais... É uma espécie tradicionalmente cultivada na Beira Baixa, que eu trouxe para experimentar na panela e na terra.

A  planta que vêem na foto é carqueja. Originária do Brasil, cresce de forma silvestre e conta com inúmeras propriedades medicinais, entre as quais se destacam o auxílio na digestão, na eliminação de toxinas e na perda de peso. Trouxe um ramo para a provar em chá.

Por último, uma boneca da Dª.Cândida, que vos apresentei no post anterior. As bonecas tradicionais de Penha Garcia e de Monsanto são de pano, feitas em cruz, com o rosto "vazio", i.e., sem olhos nem boca e associadas à fertilidade nos casamentos. Esta, sem carga simbólica, é no entanto bem representativa do que há de mais puro e cândido no artesanato nacional.

domingo, 8 de abril de 2012

Páscoa na Beira


Na Semana Santa demos uma voltinha pela Beira Baixa. Embora seja aqui tão perto, a paisagem muda logo de cara, veste-se de pedra e os povoados aconchegam-se ao colo das serranias.


Vê-se gente por estas bandas, mas só porque estamos na Páscoa. Vieram os filhos, os sobrinhos, os primos e os turistas, mas na Segunda-feira vão todos de debandada e deixam as terras caladas e quase vazias; ficam só os mais velhos.

Em Penha Garcia (Freguesia de Idanha-a-Nova), enquanto subíamos uma ladeira calcetada, conhecemos a Dª Cândida Maria.
Vergada, raspava com uma faca as ervas daninhas da frente do seu portão.

-Bom dia!, cumprimentámos
-Bom dia...-ergueu-se para olhar quem falava.- Os senhores querem ver o meu artesanato?! - perguntou de rompante. -Querem? Vou ali dentro num instantinho buscar!
Estancámos o passo e hesitámos. - Deixe estar...
-Eu vou lá para os senhores verem, eu vou lá...


Foi e voltou com esta caixinha. As suas bonecas de trapo, de lã, os seus saquinhos de cheiro e as suas pregadeiras. 
-Então, e não põe as suas coisas à venda numa loja?
-Já pus uma manta que fiz. Pedi quarenta contos por ela, para dar dez a cada filho...Sabe o que eles lá fizeram?
-O quê?- quisémos saber.
-Puseram-na a vender a oitenta! Queriam ganhar tanto como eu, sem terem trabalho nenhum. Isso não, nunca mais! Só vendo aqui à porta, às pessoas que passam.



-E quantos anos me dão?- desafiou-nos.
-Não sei, oitenta e tal, talvez. 
-Noventa e sete, menina. Noventa e sete... Já oiço é muito mal!

Admirados, escolhemos as nossas recordações, pagámos à Dª Cândida -que conferiu bem o dinheiro-demos um beijinho e lá continuámos ladeira acima, comigo a pensar que quando tiver 97 anos hei-de ser assim parecida!